A culpa da invasão é do festival AnimaPIX, que serviu de portal para o regresso destes seres diabólicos, através de sessões de contos, esculturas e ilustrações, numa ação que visa resgatar antigas lendas, a partir das quais, trabalhar com crianças, diversas áreas das expressões artísticas como o desenho, a pintura, a escultura, manipulação de marionetas e dramatização.


Todo este processo tem por objetivo manter viva a memória dos antepassados desta terra e deve culminar, num futuro próximo, com a publicação de livros, criação de espetáculos e com a realização de curtas metragens de animação. "Para já, ficou a delícia de contatar com os medos e crenças que outrora assustaram os avós dos nossos avós e que hoje nos tomam pela mão para nos ajudar a lidar com nossos próprios medos, especialmente, com o medo de termos as tradições esquecidas", admite Bianca Mendes, a artista responsável pelo trabalho. "Este é, portanto, um trabalho de missão e a mim só me cabe agradecer a oportunidade de dar um pequeno contributo para a preservação do património imaterial dos Açores, cuja gente tão bem tem me acolhido ao longo dos últimos quinze anos."


Bianca Mendes nasceu no Brasil e vive na Terceira. Tem vindo a construir um trabalho em torno das criaturas fantásticas dos Açores, nomeadamente Diabretes, Lambusões, Bruxas e Encantadas. Depois da participação no AnimaPIX, a sua próxima aparição, com MiratecArts na ilha montanha, será através de uma exposição de ilustração, já agendada para a galeria da Atlântico Teahouse, a partir de fevereiro de 2023. Até lá, poderão encontrá-la na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, em Angra do Heroísmo, onde terá a exposição de aguarelas intitulada “Bichos reais e imaginários dos Açores”, a partir do dia 7 de janeiro.

"Eles vem aí, causar desatinos, com seus olhos esbugalhados, seus cornos afiados, corações duros e frios como pedras de gelo", assim começa a artista nas suas apresentações, incentivando as crianças a experienciar o universo sombrio dos diabretes.