"Esta foi mais uma experiência para as nossas audiências e valeu todo o esforço," diz o diretor artístico da MiratecArts, Terry Costa. "Levamos o cinema mais perto das pessoas, apresentando sessões nos três concelhos da ilha montanha."

O Auditório da Madalena, o Auditório Municipal das Lajes do Pico, o Auditório da Escola de São Roque do Pico, semanalmente apresentaram curtas e longas, documentários e ficção, tal como o Auditório do Museu dos Baleeiros, onde terça, 31 de janeiro, encerra o festival. O emblemático espaço da ilha, no museu mais visitado dos Açores, tem apresentado as obras mais alternativas, admite Terry Costa. "No Museu já temos história de programação, e as audiências esperam algo diferente. Vamos encerrar em grande, com uma das mais belas obras, em cenário montanhoso, produzido nos últimos anos, e que nos faz questionar a história, o próprio presente e como vamos deixar esta Terra para o futuro."

Depois dos filmes “Nostalgia da Luz” (2010) e “O Botão de Nácar” (2015), o documentarista chileno Patricio Guzmán regressa com “A Cordilheira dos Sonhos”, onde volta a misturar a história política do seu país com elementos da natureza. Recebeu no Festival de Cinema de Cannes o Prémio de Melhor Documentário, L´Oeil d´Or. O filme embrenha-se na Cordilheira dos Andes que, num mundo em constante mudança, parece ser a única coisa que permanece intacta e que se mantém a salvo das injustiças dos homens.

“Em meu país, a Cordilheira está em todo o lugar, mas para os cidadãos chilenos, é um território desconhecido”, disse Guzmán em Cannes sobre “explorar os mistérios e as revelações da história presente e passada do Chile”. Este é “um imenso território chileno que não é chileno, porque ninguém pode viver ali sem autorização”, visto que seus documentários sempre foram usados para desencadear controvérsias, porque “lidam com os tiros de Pinochet”. A naturalidade da imagem é também esculpida pela música, pela fala de seus personagens e pela narração. “Toda vez que passo por cima da Cordilheira, eu sinto que estou chegando no país da minha infância e de minhas origens. Isso é irreal. Na juventude, não senti curiosidade nenhuma pelos Andes. A Cordilheira não era revolucionária”. A câmera, metafísica, acompanha, voa e atravessa, entre fusões de imagens, que potencializam a metáfora do esquecimento, e a sinestesia da captação dos ventos, por ângulos futuristas de drones, que remetem a uma ficção científica pós-apocalíptica pela arquitetura bruta. Estamos perante um filme sereno, poético, mas igualmente contundente reflexão fílmica, na primeira pessoa, e num contexto de partilha coletiva da memória e dos sentimentos que prevalecem no Chile, sobre um período conturbado da sua História.