O estudo “Industrializar Portugal: a Oportunidade Emergente na Transição Energética, Um Caminho de Vantagens para Todos”, a que o Expresso teve acesso, calcula que, se Portugal aproveitar o seu potencial competitivo nesta área, terá um impacto até 2030 entre 10% e 20% do PIB com a criação de 500 mil empregos, um em cada cinco dos quais qualificados. Esta é a boa notícia. A má é que, para ser possível alcançar esse objetivo, não há tempo a perder.

Vários países estão na corrida e, como diz o velho provérbio (Heraclito), “a mesma água

Que vantagens tem Portugal?

A tese da consultora McKinsey é simples: a transição energética vai implicar uma relocação de capital sem precedentes. Serão investimentos à escala global na ordem dos 6% a 7% do PIB até 2050. A Portugal, dado o seu peso no PIB global, caberá qualquer coisa como 500 mil milhões de euros nestas duas décadas e meia. É um volume brutal de investimento, que atingirá de forma mais ou menos transversal toda a economia, mas que se focará, essencialmente, nos sectores da energia, construção, indústria, agricultura, transportes e infraestruturas.

E que, diz a McKinsey, tem um enorme poder transformador sobre a economia, que pode ser aproveitado não apenas na produção de energia, mas também para integrar verticalmente algumas indústrias relevantes na economia verde.

A economia portuguesa no ecossistema ibérico tem condições naturais para liderar a transição energética pelas condições para a produção de energia renovável. Em termos de quantidade e de custo. Principalmente pelas condições naturais para produção de energia renovável e também pela infraestrutura. Alguns dados ajudam a enquadrar a ideia. Portugal tem 300 dias de sol por ano, mais 20% de horas do que a média europeia, o que reduz os custos de energia solar em 20 a 30%. Tem, além disso, mais 5% a 10% de recursos eólicos e as maiores reservas de lítio da União Europeia ou mesmo as oitavas maiores do globo.

A economia portuguesa tem também infraestruturas desenvolvidas com a sétima maior capacidade de centrais hidroelétricas que podem servir como armazéns de energia. E um capital humano com formação académica nunca visto antes. A nossa matriz energética em Portugal já é bastante renovável, mas a nossa estabilidade geopolítica é também um ponto a nosso favor.

Na teoria existem dois caminhos possíveis para os países que têm recursos naturais como nós. O modelo do Médio Oriente e do golfo Pérsico, que passa apenas por exportar as matérias-primas como a energia o crude de óleo.

O que deixaria Portugal com menos de metade do ganho potencial na sua transição energética, ou o outro caminho é do desenvolvimento das cadeias de valor em território luso, proporcionando á industria nacional uma transformação sem precedentes através da energia verde como indica o estudo. O impacto na economia é a soma dos contributos dos vários sectores que melhor podem aproveitar a oportunidade.

Como?

A ideia é aumentar a produção de energia na eletrificação, nos renováveis, no hidrogénio verde, nos bioquímicos, no biogás, nos biocombustíveis. E assim aproveitar o baixo custo da matéria-prima de energia verde para industrializar a economia portuguesa em várias áreas das indústrias nas quais a energia é um custo relevante e consegui-la a custo mais baixo com uma enorme vantagem para a competitividade do país. Tudo somado, são 10% a 20% de impacto no PIB até 2030.

A grande questão, como em quase tudo o que implica transformações nos países e nas economias, é saber como passar das ideias à prática. Porque Portugal não está sozinho nesta corrida, e tem como concorrentes diretos os países nórdicos, na Europa que já apostam muito na transição energética. E também os EUA, que estão a fazer um investimento muito significativo e bastante incentivado.

A questão é saber como fazer tudo isto, nomeadamente como assegurar que a Política e os Governos tomam as medidas adequadas para que seja possível. Porque apanhar o comboio da transição energética na grelha da partida como se diz na Fórmula 1. Implica, entre outras coisas, atrair capital numa escala global, ter uma estrutura de Incentivos que respondam a procura a longo prazo estável e previsível, com regimes de incentivos para grandes projetos, atraindo talento e massa crítica com excelência na execução dos projetos e no desenvolvimento das respetivas infraestruturas.


Author

Paulo Lopes is a multi-talent Portuguese citizen who made his Master of Economics in Switzerland and studied law at Lusófona in Lisbon - CEO of Casaiberia in Lisbon and Algarve.

Paulo Lopes